terça-feira, 26 de maio de 2020

SEMANA 2 Natureza e cultura







No ENEM de 2015, uma questão gerou muita polêmica:

“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino”.
BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca o(a):

A) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual.
B) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho.
C) organização de protestos púbicos para garantir a igualdade de gênero.
D) oposição de grupos religiosos para impedir os casamento homoafetivos.
E) estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas.

Ao afirmar que “a mulher não nasce mulher” a questão tem caráter antropológico que envolve existencialismo, cultura, etc ... Mas antes de abordar a colocação de Simone de Beauvoir, vamos ver as bases que nos levaram a essa temática:

A condição humana

Sabemos que Antropologia (anthropos, "ser humano" e logos, "razão", "pensamento", "discurso", "estudo”) é a ciência que estuda o ser humano e as diferentes culturas. Contudo, a Antropologia Filosófica é a reflexão da condição humana, o questionamento do que é o ser “humano”.
Assim, a Antropologia filosófica é a reflexão do conceito que o homem faz de si mesmo.

A antropologia filosófica é a antropologia encarada metafisicamente; é um ramo da filosofia que investiga a estrutura essencial do Homem. No entanto, este com o que é o homem para o centro da especulação filosófica, sendo que tudo se deduz a partir dele; a partir dele se tornam acessíveis as realidades, que o transcendem, nos modos de seu existir relacionados com essas realidades.

Natureza e cultura

A diferença essencial da criatura humana com outros seres vivos se da existência da “razão”, o ser humano é um “ser racional”.
Os animais vivem em harmonia com a natureza, pois seus instintos são regidos por leis biológicas, por outro lado, o “homem” é transformador da natureza e o resultado dessa transformação chama se “cultura”.
Os animais não alteram significativamente a natureza ao contrário do ser humano que afeta radicalmente o espaço ao ponto de causar até mesmo desequilíbrios ambientais.

“Tornar-se homem”

Imagine uma criança humana que seja largada no meio da floresta e sobreviva, por uns dez anos sem nenhum contato com a sociedade humana. Um dia, ela é encontrada pela civilização, as pessoas vão encontrara uma criança normal?
Óbvio que não! Essa criança humana em existência, não foi criada e não adquiriu a “cultura humana” (A fala, Concepções de comportamento, moral, etc)

Assim, nos deparamos com a questão do “Homem não nasce homem” pois precisa da “educação” para se “humanizar”.

Logo, compreendemos a fala de Simone de Beauvoir, sabemos que o ser humano nasce biologicamente de um tipo, mas a crença de como agir é uma construção humana, passada por meio da educação.



Afinal, usar a cor rosa é coisa de mulher e azul é cor de homem? Isso é natural ou uma criação humana? Obvio que é uma criação humana, precisamente da moda (Um revista de moda infantil americana, a Earnshaw em 1918)

Percebemos a crítica de Simone Beauvoir, olhando para seu tempo onde a mulher era vista como uma criatura que deve ser submissa ao homem, cujo “deveres” de mulher seriam “naturais”, mas se pararmos para pensar, tudo isso é uma criação humana ...

Agora que entendemos o contexto, não faz tanto sentido a polêmica não é mesmo?

O ser humano tem os mesmos instintos que os animais mas tem consciência, para orientar no controle de si mesmo. A sociedade humana surge pois o ser humano é o ser capaz de criar “leis”, regras para viver em comunidade.

“Existe uma natureza humana universal?”

Para os principais pensadores da antiguidade defendiam que existe uma natureza humana e a plenitude do ser humano estaria no aperfeiçoamento da razão.
Contudo, da perspectiva existencialista diz o contrário como vimos na celebre frase de Sartre: 

“A existência precede a essência”.

O ser humano primeiramente existe, tem suas experiências de vida e daí vai formando sua essência, o seu “eu”.

O que nos leva a conhecer um pouco do existencialismo de Simone Beauvoir e Sartre:


Simone de Beauvoir (1908-1986)

Simone de Beauvoir foi uma, filósofa existencialista, escritora francesa e feminista. É considerada uma das maiores representantes do existencialismo na França. Manteve um polêmico e longo relacionamento amoroso com o filósofo Paul Sartre.
Destaca-se em sua reflexão a constatação de que:
“A representação do mundo é obra dos homens, eles o descrevem a partir de seu próprio ponto de vista”
Assim, Beauvoir preocupava se com a forma com que as mulheres eram julgadas. Sustentava que as mulheres devem buscar se libertar tanto da ideia de “ser como os homens” como da passividade” que a sociedade lhes atribui, aprisionando a mulher em ideais impossíveis, ao mesmo tempo que lhe negam o seu “eu”.

“Viver uma existência verdadeiramente autentica traz mais riscos do que aceitar um papel transmitido pela sociedade, mas é o único caminho para a igualdade e a liberdade”.

Sartre (1905/1980)

“Não importa o que fizeram com você. O... Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”.

Jean Paul Sartre (1905/1980) defende que o homem é livre e responsável por tudo que está à sua volta. Somos inteiramente responsáveis por nosso passado, nosso presente e nosso futuro.
Em Sartre, temos a ideia de liberdade como uma pena, por assim dizer. "O homem está condenado a ser livre".

Assim, "a vida nos obriga a escolher entre vários caminhos possíveis [mas] nada nos obriga a escolher uma coisa ou outra". Logo, dentro dessa perspectiva, recorrer a uma suposta ordem divina representa apenas uma incapacidade de arcar com as próprias responsabilidades.

Percebemos engajamento político, pois partindo da ideia de que O mundo não está pronto e determinado, o ser humano tem responsabilidade com este mundo, as mudanças em relação ao que está errado com este mundo, podem acontecer mediante a política.


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