No ENEM
de 2015, uma questão gerou muita polêmica:
“Ninguém nasce mulher:
torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma
que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que
elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o
feminino”.
BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1980
Na década de 1960, a proposição de Simone de
Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca
o(a):
A) ação do Poder Judiciário para criminalizar a
violência sexual.
B) pressão do Poder Legislativo para impedir a
dupla jornada de trabalho.
C) organização de protestos púbicos para
garantir a igualdade de gênero.
D) oposição de grupos religiosos para impedir os
casamento homoafetivos.
E) estabelecimento de políticas governamentais
para promover ações afirmativas.
Ao
afirmar que “a mulher não nasce mulher” a questão tem caráter antropológico que
envolve existencialismo, cultura, etc ... Mas antes de abordar a colocação de
Simone de Beauvoir, vamos ver as bases que nos levaram a essa temática:
A
condição humana
Sabemos
que Antropologia (anthropos, "ser humano" e logos,
"razão", "pensamento", "discurso",
"estudo”) é a
ciência que estuda o ser humano e as diferentes culturas. Contudo, a Antropologia
Filosófica é a reflexão da condição humana, o questionamento do que é
o ser “humano”.
Assim, a
Antropologia filosófica é a reflexão do conceito que o homem faz de si mesmo.
“A antropologia filosófica é a antropologia encarada
metafisicamente; é um ramo da
filosofia que investiga a estrutura essencial do Homem. No entanto, este com o
que é o homem para
o centro da especulação filosófica, sendo que tudo se deduz a
partir dele; a partir dele se tornam acessíveis as realidades,
que o transcendem, nos modos de seu existir relacionados com essas realidades”.
Natureza
e cultura
A
diferença essencial da criatura humana com outros seres vivos se da existência
da “razão”, o ser humano é um “ser racional”.
Os
animais vivem em harmonia com a natureza, pois seus instintos são regidos por
leis biológicas, por outro lado, o “homem” é transformador da natureza e o
resultado dessa transformação chama se “cultura”.
Os
animais não alteram significativamente a natureza ao contrário do ser humano
que afeta radicalmente o espaço ao ponto de causar até mesmo desequilíbrios
ambientais.
“Tornar-se
homem”
Imagine
uma criança humana que seja largada no meio da floresta e sobreviva, por uns
dez anos sem nenhum contato com a sociedade humana. Um dia, ela é encontrada
pela civilização, as pessoas vão encontrara uma criança normal?
Óbvio que
não! Essa criança humana em existência, não foi criada e não adquiriu a
“cultura humana” (A fala, Concepções de comportamento, moral, etc)
Assim,
nos deparamos com a questão do “Homem não nasce homem” pois precisa da
“educação” para se “humanizar”.
Logo,
compreendemos a fala de Simone de Beauvoir, sabemos que o ser humano nasce
biologicamente de um tipo, mas a crença de como agir é uma construção humana,
passada por meio da educação.
Afinal,
usar a cor rosa é coisa de mulher e azul é cor de homem? Isso é natural ou uma
criação humana? Obvio que é uma criação humana, precisamente da moda (Um revista de moda infantil americana, a Earnshaw em 1918)
Percebemos a crítica de Simone Beauvoir, olhando para seu tempo onde a mulher era vista como uma criatura que
deve ser submissa ao homem, cujo “deveres” de mulher seriam “naturais”, mas se
pararmos para pensar, tudo isso é uma criação humana ...
Agora que entendemos o contexto, não faz tanto
sentido a polêmica não é mesmo?
O ser
humano tem os mesmos instintos que os animais mas tem consciência, para
orientar no controle de si mesmo. A sociedade humana surge pois o ser humano é
o ser capaz de criar “leis”, regras para viver em comunidade.
“Existe
uma natureza humana universal?”
Para os
principais pensadores da antiguidade defendiam que existe uma natureza humana e
a plenitude do ser humano estaria no aperfeiçoamento da razão.
Contudo,
da perspectiva existencialista diz o contrário como vimos na celebre frase de
Sartre:
“A
existência precede a essência”.
O ser
humano primeiramente existe, tem suas experiências de vida e daí vai formando
sua essência, o seu “eu”.
O que nos
leva a conhecer um pouco do existencialismo de Simone Beauvoir e Sartre:
Simone de Beauvoir (1908-1986)
Simone de Beauvoir foi uma, filósofa existencialista, escritora francesa
e feminista. É considerada uma das maiores representantes do existencialismo na
França. Manteve um polêmico e longo relacionamento amoroso com o filósofo Paul
Sartre.
Destaca-se em sua reflexão a constatação de que:
“A representação do mundo é obra dos homens, eles o descrevem a partir
de seu próprio ponto de vista”
Assim,
Beauvoir preocupava se com a forma com que as mulheres eram julgadas.
Sustentava que as mulheres devem buscar se libertar tanto da ideia de “ser como
os homens” como da passividade” que a sociedade lhes atribui, aprisionando a
mulher em ideais impossíveis, ao mesmo tempo que lhe negam o seu “eu”.
“Viver
uma existência verdadeiramente autentica traz mais riscos do que aceitar um
papel transmitido pela sociedade, mas é o único caminho para a igualdade e a
liberdade”.
Sartre
(1905/1980)
“Não importa o que fizeram com você. O...
Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que
você faz com aquilo que fizeram com você”.
Jean Paul Sartre (1905/1980) defende que o homem é
livre e responsável por tudo que está à sua volta. Somos inteiramente
responsáveis por nosso passado, nosso presente e nosso futuro.
Em Sartre, temos a ideia de liberdade como uma
pena, por assim dizer. "O homem está condenado a ser livre".
Assim, "a vida nos obriga a escolher
entre vários caminhos possíveis [mas] nada nos obriga a escolher uma coisa ou
outra". Logo, dentro dessa perspectiva, recorrer a uma suposta
ordem divina representa apenas uma incapacidade de arcar com as próprias
responsabilidades.
Percebemos engajamento político, pois partindo da
ideia de que O mundo não está pronto e determinado, o ser humano tem
responsabilidade com este mundo, as mudanças em relação ao que está errado com
este mundo, podem acontecer mediante a política.
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